Editorial- #EmCasa

Você já ouviu falar do dilema do prisioneiro? Ele funciona assim: dois suspeitos são presos em celas separadas e serão interrogados em momentos diferentes. Se um confessar o crime e o outro não, ele é solto por ter colaborado com a justiça e o outro, que não colaborou, é preso por 10 anos. Se os dois confessarem, ambos ficam presos por cinco anos. Se os dois ficarem em silêncio, as provas para condená-los são menos robustas e eles acabarão sendo condenados a um ano de reclusão, cada. Para o beneficio coletivo dos dois, o ideal é ficar em silêncio, porque isso representa um tempo total de reclusão menor, distribuído entre eles. Porém, isso exige cooperação e muita confiança.

Bem, o mundo foi colocado em uma situação em que estamos todos envolvidos em um “dilema do prisioneiro” ao termos que decidir como nos portar frente ao corona vírus. Isso acontece de duas formas distintas:

A primeira delas é que, se todo mundo optar por ficar em casa, resolvemos o problema de forma mais rápida e menos impactante. Se aqueles que “não são zona de risco” seguirem a vida normalmente, os idosos e pessoas com alguma condição especial arcam com as consequências disso de uma forma mais severa, em um primeiro momento. Mas, em seguida, com os hospitais ficando sobre-lotados, dificultarão que os mais novos recebam o atendimento necessário para que eles próprios possam se restabelecer de condições respiratórias agudas, que acontecem na minoria dos casos, em sua faixa etária, mas, que ainda assim exigem internação hospitalar para que haja recuperação. Assim, a sua decisão egoísta acaba os levando também a uma situação menos favorável para si próprios. E, se todo mundo seguir com a vida normal, eventualmente, todos vamos ficar doentes e perder pessoas próximas, ainda mais rapidamente, já que o colapso hospitalar, neste caso, é certo. A solução ganha-ganha, ou em que todos perdem menos, é ser sensível à grave crise de saúde, por mais que ela pareça afetar mais os outros, e ficar em casa!

A segunda forma como o dilema do prisioneiro se apresenta é econômica. Todos estamos perdendo, neste momento, mas temos algumas opções. Se todo mundo flexibilizar prazos e multas impostas aos seus clientes inadimplentes ou fornecedores que não estão conseguindo entregar conforme prometido, se negociarmos mais para distribuir as perdas de uma forma que todos consigamos suportá-las, o prejuízo sera menor para todos. Aqueles que procurarem levar seus contratos a ferro e fogo, insensíveis à radical mudança nas condições ambientais, deixando de demonstrar sensibilidade pela posição do outro, vão estimular nos seus clientes, fornecedores e funcionários o mesmo tipo de atitude. Ao procurarmos todos enfatizar o nosso benefício individual, contribuiremos para que todos percamos muito mais, de forma conjunta. Vamos ter mais empresas quebrando e entrar em um ciclo econômico ainda mais vicioso do que aquele para o qual o vírus já nos empurra. Precisamos lembrar que, quando uma empresa quebra, tem demissão de funcionários, os quais, cortam radicalmente seus próprios gastos, levando outras empresas à falência.

A nossa grande vantagem em relação aos prisioneiros é que podemos nos comunicar. E felizmente, estamos começando uma onda de cooperação e solidariedade. Várias empresas e profissionais se dispondo a receber menos, ou até mesmo, trabalhar de graça pelo bem maior. Tentando reduzir as consequências deste momento maluco que estamos vivendo.

O Qualquer Latitude, desde o final de 2013, tem como principal objetivo incentivar viagens e intercâmbios, pois acreditamos que quando as pessoas saem da sua zona de conforto passam a entender melhor outras formas de viver, aceitar culturas diferentes e se tornam mais flexíveis. Mas nosso mundo pequeno, globalizado e livre se tornou, nas últimas semanas, gigante, distante e cheio de barreiras. Um cenário, que alguns meses atrás ninguém imaginaria. Famílias, amigos, amores separados…, muitas lágrimas, desespero, voos cancelados e fronteiras fechadas.

Neste momento, o Qualquer Latitude tem certeza que o melhor é ficar em casa, se possível junto com a família. Não é hora de descobrir a própria cidade, nem de sair para experimentar comidas exóticas. Infelizmente o tempo que vivemos é de uma parada completa em atividades de turismo e aventura.

A maneira que encontramos de cooperar em hora tão difícil é oferecendo apoio psicológico para intercambistas, pessoas que moram fora do país ou que tiveram seus planos de viagem afetados pelo COVID-19. Este apoio esta sendo organizado pela nossa colunista Priscila Conte, que é psicóloga, e está habilitada pelo Conselho Federal de Psicologia para atender online (CRP:08/30418). Ela está fazendo lives no instagram @qualquerlatitude toda sexta-feira, às 17 horas.

Nossa equipe espera poder voltar a postar conteúdo de viagem em breve, quando tudo isso acabar… Por isso, não cancele seus planos de viagem, apenas os adie para momento mais favorável. Se já tinha passagens marcadas, hospedagens contratadas com hotéis… seja flexível na negociação do que vai acontecer. Lembre que há muita gente que vive do turismo e que mesmo adiamentos representam um enorme prejuízo para elas, que sempre fizeram de tudo para que os seus sonhos de viagem pudessem acontecer. Apoie, nesse momento complicado, principalmente os pequenos empresários do ramo de turismo. Fique em casa, mas não deixe de enviar energias positivas para esse pessoal que mundo se recuperar logo

Por ora, ficamos em casa, mas torcendo para que dias melhores logo cheguem para podermos colocar, novamente, o pé na estrada!

Yasmin Graeml criou o Qualquer Latitude em 2013 durante um intercâmbio de High School na Austrália, jornalista e apaixonada por contar histórias adora dar conselhos de viagem e preparar roteiros para os leitores do blog!